
O Porto é um porto onde bairros atracam e encalham. Não por inevitabilidade da maré, mas antes porque cá morar é a sua fé.
Esses bairros não são abstratos, são concretos. São territórios feitos por gentes, tempos e ideias.
Todos e cada um deles desenham linhas insubstituíveis do rosto que é o do Porto.
Aqui o convidamos a olhar para cada uma delas, agrupadas nas suas sete maravilhas.
Perdão, nas nossas sete freguesias. São todas suas, também.
Um Centro com muitos centros dentro.
O Centro Histórico do Porto deixa-se chamar com vários vocábulos.
Todos são Porto e, no entanto, cada um é algo mais também.
O primeiro vocábulo é um palavra de triunfo. Uma palavra de vitória.
Entrando na Livraria Lello sente, certamente, uma emoção de triunfo. Como se o deslumbre que contempla fosse uma vitória eminentemente pessoal. Eminentemente sua.
É justo que assim o sinta. Essa vitória não só é sua, por nos vir conhecer, como é nossa, por ficarmos seus amigos. Mas sabia que, além de um e de outro, a vitória também é da Livraria Lello?
Um Bairro chamado Vitória.
Pois, esse é o nome do bairro onde a Livraria Lello se inscreve.
Toda a gente, e nós também, nos diz nos Clérigos, tanta é a magnitude do ícone nossos vizinho. Muitos começam também a dizer “na Livraria Lello”, tal é a memória carinhosa que para nós reservam.
Mas uma e outra, torre e livraria, ficam na Vitória, ou melhor e como gostamos de bem vincar, na “Bitória”.
Além destes ícones do Porto e de Portugal inteiros há muito mais para ver e viver na Vitória.
A Ciência Natural dos Estudantes Ubíquos.
Saindo da Livraria Lello e virando à direita, passa pela Reitoria da Universidade e aí não pode deixar de entrar no seu novíssimo Museu da História Natural e da Ciência, que apresenta maravilhas naturais e científicas vindas diretamente da razão e da emoção dos muitos saberes e prazeres que a Universidade do Porto ministra e revela.
Continuando em frente, à esquerda vê onde param os estudantes desta e de outras Universidades e reparará como os estudantes do Porto são especiais, pois parecem ter descoberto o dom da ubiquidade que todos perseguimos. Não é que conseguem estudar, dormir e, ainda assim, encher sempre o Café Piolho, que abre às 7h da manhã e não fecha antes das 4h da madrugada do dia seguinte?
Talvez partilhem o segredo em troca de uma cerveja, vamos tentar?
As Igrejas Gémeas que o não são.
Já na posse deste segredo inconfessável, continuamos em frente, pois para a frente é o caminho e, olhando à direita vemos como a Religião está imune à concorrência.
Não é que existe uma igreja mesmo ao lado de outra?
Ao lado, ao lado, não é bem verdade, pois a unir uma e outra está aquela que é, talvez, a casa mais estreita da cidade, e como há casas estreitas nesta cidade…
Vê aquelas duas janelas verticais seguidas entre a Igreja do Carmo e a das Carmelitas?
Elas dão luz a uma casa que nem um metro de largura terá, tanto que poucos reparam que, entre os dois monumentos nacionais – entre as falsas igrejas gémeas – há um domus que é do homem e não apenas de Deus.
Uma Casa Invisível feita de Pedra Eterna.
Esta casa prova bem, aliás, como a Igreja percebe bem de leis dos homens e as respeita sempre, ainda que com criatividade divina.
Ela existe apenas porque – talvez para que entre as igrejas etéreas houvesse crentes terrenos – havia uma lei que impedia que duas igrejas partilhassem a mesma parede.
Assim, operou-se o Milagre!
Ambas as magníficas – no exterior e ainda mais no interior – partilham paredes com uma casa que, de quase invisível, quase ninguém percebe se ergue pelo mesmo tempo eterno que une as igrejas que a ofuscam.
Os Chineses que não riem de nós, riem connosco.
Continuando, mas já não em frente porque do Hospital apenas basta admirar a sua bela fachada neoclássica e saber que ele lá está, bem no centro da cidade, para o que houver.
Vire, pois, à esquerda e entre na alameda que atravessa o jardim e sente-se ao lado dos chineses sempre ridentes com que Juan Muñoz nos celebrou aquando de Porto 2001, Capital Europeia da Cultura.
Verá como, debaixo dessas árvores frondosas, lhe parecerá que o bulício do centro é como que uma ilusão perante a qual, inevitavelmente, o seu sorriso fará companhia aos sorrisos esculpidos pelo intemporal artista espanhol.
Lino Teixeira
Sobre o autor:
Lino Miguel Teixeira (1977) é licenciado em Relações Internacionais (área de especialização em Estudos Europeus) pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. É consultor de comunicação e estratégica de projetos de intervenção no território através dos eixos culturais e criativos. Atualmente é assessor do Gabinete do Ministro da Educação.
